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Turcos já previam tentativa de golpe militar

Turcos já previam tentativa de golpe militar
agosto 04
11:02 2016
Os turcos já previam a articulação de um golpe militar antes da tentativa deflagrada no dia 15 de julho, quando um grupo de dissidentes militares inconformados com o governo de Recep Erdogan bombardeou o Parlamento. Em poucas horas o levante foi sufocado pela população com a ajuda da polícia, conflito que deixou cerca de 300 mortos entre militares e civis.
Meses antes do acontecimento jornais publicaram manchetes sobre o levante militar, o WikiLeaks vazou uma série de mensagens particulares do primeiro ministro, apontando que o governo já tinha conhecimento dos riscos, e um usuário do Twitter divulgou um mês antes a data exata em que o golpe iria acontecer.
Por que com tantos indícios o governo turco não foi capaz de desmantelar o esquema antes de ser deflagrado?  A questão foi levantada pelo jornalista turco Kamil Ergin, que vive no Brasil desde 2007 e trabalha como correspondente e coordenador da Plataforma de Mídia do Centro Cultural Brasil Turquia (CCBT), ligado ao Hizmet, movimento crítico ao governo de Erdogan e que está sendo acusado pelo primeiro ministro de ter colaborado com a tentativa de golpe.
O governo Turco pediu para os Estados Unidos a extradição do líder e fundador do Hizmet, Fethullah Gülen. O clérigo, radicado naquele país desde 1999, além de condenar o golpe militar, se dispôs a colaborar caso as investigações sejam feitas fora da Turquia.  Em uma das últimas entrevistas coletivas que concedeu recentemente, Gülen chegou a afirmar que se for considerado culpado de envolvimento na tentativa de golpe, por um júri internacional, se entregará para ser julgado pelo governo turco.
Aqui no Brasil, o CCBT organizou uma coletiva de imprensa em São Paulo indicando que Recep Erdogan transformou a tentativa de golpe em contragolpe. Nas últimas semanas a Turquia decretou estado de emergência, suspensão temporária da Convenção Europeia de Direitos Humanos e perseguição política a todos os opositores do governo que podem estar envolvidos na tentativa de sua destituição.
Veja a seguir os acontecimentos que permitiram a Erdogan as condições para reverter o cenário político turco, levantados por Ergin.
15 de julho
Um grupo de militares bombardeia o parlamento em Ancara. A Turquia teve quatro golpes de estado na sua história: em 1960, 1971, 1980 e 1997, e essa foi a primeira vez que a casa do poder legislativo foi atacada. Ergin conta que chegou a pensar que não se tratava de um golpe, mas sim de um atentado terrorista quando as primeiras notícias começaram a chegar.
O horário escolhido pelos militares golpistas também não foi dos melhores, por volta das 9 horas de uma noite de verão “quando tinha muita gente nos restaurantes, bares, mesquitas, nas ruas”, ressalta.
Os golpes anteriores e que deram certo na Turquia ocorreram de madrugada, em seguida, rapidamente ministros e o chefe de estado eram detidos e os meios de comunicação controlados.
Na tentativa mais recente, a estratégia foi bem diferente. “Se vão prender o presidente e derrubar o governo, tem que controlar veículos de comunicação, os mais assistidos, ou o próprio comitê que organiza o sinal de satélite, o que é possível fazer com 20 soldados facilmente”, salienta Ergan. Mas ao invés disso os militares golpistas foram até a TV estatal Turca, de baixíssima audiência, para fazer a declaração de golpe.
“Os outros canais começaram então a fazer campanha para Erdogan com entradas ao vivo, a cada dez ou vinte minutos, chamando gente para ir às ruas”, conta o correspondente.
Caça as bruxas
Outro indício, levantado por Ergin, de que o governo, já sabendo do golpe, aproveitou a situação para acabar com a oposição no país é a uma lista que foi divulgada pelos principais jornais impressos e redes sociais, praticamente no dia seguinte ao levante com os nomes dos militares supostamente envolvidos na organização do golpe junto com o valor que cada um teria em contas bancárias na Suíça. Como conseguiram tão rapidamente aquelas informações? Questiona o correspondente, os jornais já tinham informações antecipadas?
Chama atenção também a primeira reação pública de Erdogan realizada logo após a notícia do levante. O primeiro ministro declarou que a tentativa foi “um presente de Deus para fazer uma limpeza geral no exército”. Mas o que deveria ficar restrito ao circuito militar acabou se estendendo para toda a sociedade, na semana seguinte mais de 60 mil funcionários públicos entre militares, juízes, professores e até um Ministro do Esporte tiveram suas licenças caçadas, o passaporte apreendido e alguns foram presos, acusados de estarem envolvidos na tentativa de deposição forçada de Erdogan.
Partidários do primeiro ministro estão divulgando outras listas com o nome de empresas e pessoas supostamente envolvidas com os militares dissidentes ou com movimentos inimigos do governo, dentre eles o Hizmet. O governo até criou uma linha telefônica direta para a população denunciar, e quanto mais denuncias um indivíduo fizer, mais créditos recebe.
Mustafa Goktepe, presidente do CCBT destacou que existem nomes de pessoas que morreram há um mês, indicando “claramente que essa lista estava pronta há muito tempo”, afirma.
A perseguição política chegou a tal ponto que prefeitos e governadores locais declararam que nenhuma pessoa poderá comprar, alugar ou vender casa e mercadorias de suspeitos separatistas. A cidade de Cunha anunciou que o serviço funerário – que na Turquia é público – não será prestado para envolvidos no golpe. Até quinta-feira (21) o CCBT tinha sido informado que duas famílias não puderam enterrar seus mortos porque estavam enquadradas na nova norma.

General preso por envolvimento no golpe que declarou por escrito ser ligado ao movimento Hizmet, mas como é possível notar, suas mãos estão enfaixadas
Riscos para a democracia
Com a limpeza prometida dentro do setor militar, já anunciada por Erdogan, o governo Turco espera criar um exército novo, “totalmente leal”, reforça Ergin. Está em discussão também a pena de morte e a liberação do porte de armas para os civis.
A previsão é que, após o período de estado de emergência, o primeiro ministro realize um referendo propondo eleições antecipadas para alterar o regime político Turco que hoje é parlamentarista para o presidencialismo, aumetando seu poder de decisão.

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