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A nova fase da violência política na Turquia

A nova fase da violência política na Turquia
outubro 18
12:32 2016

Já são passados quase três meses do fracassado golpe na Turquia. Os acontecimentos de 15 de julho eram previsíveis, mas não deixam de marcar um divisor de águas na história da Turquia moderna. Ainda assim, cometeríamos um erro ao ver o golpe como um evento único. A Turquia já viveu a experiência de dois golpes anteriores. Este ultimo, o terceiro golpe, poderia ser o mais violento e teria representado real perigo de vida para o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan.

O primeiro golpe foi uma tentativa desajeitada e fracassada na noite de 15 de julho de 2016. Embora Erdogan tenha declarado da falha de golpe como”um dom de Deus” porque dentro desta falha se oferecem desculpas para purgar inimigos reais e imaginários, a gênese das evidencias iniciais do golpe são nebulosas. Erdogan e seus seguidores se colocaram como rivais do seu ex-aliado Fethullah Gulen, a quem Erdogan designa como uma organização terrorista (FETO). As provas que Erdogan apresenta relacionando Fethullah Gulen com uma suposta organização terrorista, tanto para a imprensa turca como para o governo dos EUA, são suspeitas de substituição de circunstanciais, o que compromete sua validade como prova.

Dani Rodrik, professor da Universidade de Harvard e um proeminente general turco esperto nas leis vigentes, delinearam os argumentos mais coerentes sobre o possível envolvimento dos seguidores de Fethullah Gulen na tentativa de golpe. Rodrik trás um caso convincente, mas no entanto é necessário muito cuidado nas informações que ele omite, porque essas podem influenciar certos resultados apontados nas conclusões lógicas do “cui bono “ que assumem previsão triunfante sobre as consequências não intencionais, como se desenrolam nos atos durante o golpe.

Não é bonito, mas bastaria dizer que o estratagema intelectual e a habilidade político maquiavélica de Erdogan levaram as coisas a este ponto.

Minha leitura sobre o envolvimento de alguns seguidores de Fethullah Gulen, é de que estes participantes já seriam previamente conhecidos, juntos a oficiais do corpo kemalista. Há ampla evidência de que nem todos os membros do serviço de inteligência turco e até mesmo os de dentro da elite dos círculos do Partido da Justiça e Desenvolvimento tinham as mãos limpas. Os gulenistas simplesmente foram os bodes expiatórios úteis para os males que se seguiram. Ao contrário dos últimos golpes ocorridos na Turquia, não esta claro quem esteve por trás do golpe. Certo é que Erdogan tinha essas informações horas antes do desenrola dos atos.

O segundo golpe foi um auto golpe de Erdogan. Este golpe realmente foi mais destrutivo para a rede democrática da Turquia, do que os eventos iniciados em 15 de julho. Em setembro de 2016 emiti um comentário explorando a formação intelectual de Erdogan. Basta dizer que não é bonito, mas o estratagema intelectual e a habilidade político maquiavélica de Erdogan levaram as coisas a este ponto.

O que poucos falam abertamente, mas já começou a ser sussurrado de forma privada, é que se abria no horizonte a possibilidade do aparecimento de um terceiro golpe. Quando Erdogan lançou sua longa aliança com Gulen em 2013, o líder turco não estava sem aliados. Aqui, o caso de Sedat Peker é interessante. Um ultranacionalista, Peker tem ampla fama de ser o mafioso mais poderoso da Turquia. Ele foi preso durante o curso das operações de “Ergenekon”, condenado a vários anos de prisão, foi um dos primeiros a ser libertados antes mesmo das evidência apoiando que o caso foi fraudulento.

No entanto as controvérsias de Peker nunca foram motivos para a separação da aliança com Erdogan. Os gulenistas podem ter uma rede mais ampla, porem as conexões com Peker são declaradamente muito mais poderosas. Enquanto Erdogan usava mais uma vez a rede de Gulen para fazer seu trabalho sujo, é possível que Peker e outros como ex partidário do DYP, o oficial Mehmet Agar (que também tem um passado duvidoso, e tem cultivado relações estreitas com Erdogan) podem estar usando Erdogan para fazer o seu próprio trabalho sujo. Afinal, como Erdogan põe em alvo os gulenistas, a etnia curda, os liberais, as feministas e sua oposição política, ele está eliminando não apenas os seus inimigos, mas também os de Peker e seus aliados mais próximos.

Logo a questão chave necessitara de uma resposta: Se nem Erdogan nem algumas das figuras mais sombrias da máfia turca, bem como o estado poderiam tolerar esta perturbadora concorrência, o que poderia acontecer quando Erdogan e a máfia turca forem os únicos poderes restantes? Se houver um confronto, ele será violento?

O que aconteceria se Erdogan e a máfia turca fossem os únicos poderes restantes? Se houver um confronto, será violento?

A desvantagem de consolidar o poder extremo para Erdogan, é a formação de um enorme vácuo quando ele for removido. Erdogan tomou uma Turquia profundamente polarizada e a coloca-a em uma panela de pressão. Com a competição política normal, sem muito tempo disponível para a saída da pressão fabricada, a mortal violência política tornar-se mais provável. A natureza da formação do estado que é atravessada pelas facções políticas e as etnias, como demonstrada o escândalo de ”Susurluk de 1996”. Se Erdogan for assassinado – e haverão tentativas para isso – o que resta da formação do estado turco, é o que teria maior capacidade para preencher o vácuo. De modo geral, Peker e seus companheiros de viagem não seriam susceptíveis em colocar suas ambições ou ideologias de lado. Mesmo que Peker não queira segurar as rédeas formais do estado, ele tem ligações suficiente com políticos veteranos turcos para colocar uma figura decorativa no palácio presidencial. Erdogan pode acreditar que ele é sultão, mas, em realidade, ele já pode ser considerado um homem morto andando.

por Michael Rubin, AEI em 12 de Outubro de 2016.

Fonte: www.aei.org

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