“Última vila armênia” da Turquia mostra herança que sobreviveu ao genocídio

Vakifli, uma vila em Hatay, a pequena fatia da Turquia imprensada entre o Mediterrâneo e a fronteira com a Síria, tem a melancólica honra de ser conhecida como a “última vila armênia” do país.
Atualmente, abriga apenas 100 pessoas, mas os laranjais de Vakifli e as tradicionais casas de pedra são ricas em história. Todo verão, milhares de visitantes em busca de uma conexão com seu passado armênio descem à pequena vila para visitar sua igreja, comprar geléias e sabonetes feitos localmente e ouvir o dialeto armênio ocidental.
Lora Baytar, jornalista e historiadora de arte, decidiu há muito tempo que queria criar um espaço de exposição dedicado para celebrar a cultura armênia local. Após cinco anos de trabalho, o Museu Vakifliköy – o primeiro empreendimento desse tipo na Turquia – acaba de abrir suas portas.
“Os visitantes de Vakifli apenas vêm para passar o dia, tiram uma foto da igreja e vão embora novamente”, disse ela. “Queria dar às pessoas a oportunidade de realmente entender e preservar nossa herança.”
O acerto de contas da Turquia com o passado está muito atrasado: o governo ainda se recusa a reconhecer como genocídio os eventos de 1915, nos quais até 1,5 milhão de armênios foram mortos.
A comunidade de Vakifli é descendente de armênios que resistiram com sucesso aos ataques do exército otomano. Os 4.200 residentes da área se retiraram para o Monte Musa, perto dali, aguardando 53 dias antes de serem resgatados e evacuados por navios de guerra aliados para Port Said, no Egito. Quando a primeira guerra mundial terminou, eles voltaram para casa.
Baytar e seu marido, Cem Çapar, fazem parte da fundação da igreja de Vakifli, que mantém os prédios da vila, mas o casal percebeu que precisaria de ajuda externa e de um orçamento muito maior para o museu.
Um primeiro pedido de financiamento em 2015, feito com a ajuda da Fundação Hrant Dink, não deu em nada, mas uma segunda tentativa em 2018, com o apoio do Museu de Arqueologia de Hatay, vizinho dali, e do Patriarcado Armênio em Istambul, ganhou com êxito um subsídio governamental .
Os moradores de Vakifli gravaram entrevistas sobre histórias orais e doaram objetos, incluindo roupas, rendinhas tradicionais, joias e fotografias para criar o que Baytar chama de experiência “baseada em histórias” para visitantes do espaço no centro cultural existente.
As seções se concentram em tradições religiosas, celebrações culturais como a harissa, o festival da uva de verão, o impacto da migração na comunidade armênia e práticas arquitetônicas e agrícolas locais únicas.
Baytar gosta particularmente de uma caixa de doações da agora destruída igreja armênia de Mersin, e de um vestido de casamento e um livro de canções da década de 1920, pertencentes a figuras locais.
A crise do Covid-19 atrasou a abertura oficial até o final do ano, ou possivelmente até o próximo verão, mas Baytar e Çapar estão ansiosos para receber os visitantes antes disso.
“O Museu Vakifliköy mostra ao visitante como os moradores falam, nossas crenças, como comemoramos feriados, o que comemos, como obtemos sucesso na agricultura e arquitetura, tradições de casamento, música, fotos, histórias humanas e de migração”, disse Baytar.
“Quando as pessoas vierem agora, não sairão com apenas uma fotografia. As memórias deles serão preenchidas da mesma forma que as nossas.
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