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Para transformar a Turquia, Erdogan precisa de caos

Para transformar a Turquia, Erdogan precisa de caos
novembro 09
11:44 2016

Todos estão lutando para compreender porque autoridades turcas prenderiam legisladores do terceiro maior partido de oposição da Turquia ao menos que quisessem outro ciclo de violência. Não pode ser mais óbvio do que isto: A mais recente repressão contra políticos curdos é um convite aberto para uma guerra civil na Turquia.

Quando isso vem em uma tempo de tensões exacerbadas, as coisas se tornam ainda mais perigosas. O exército turco já está lutando contra milícias curdas na Síria e despejando bombas no PKK no sudeste da Turquia. A guerra foi arrastada para áreas urbanas em vilarejos e cidades curdos, infligindo um pesado saldo de civis mortos. Cidades são reduzidas a escombros. Dezenas de milhares de pessoas fugiram para salvarem suas vidas. E o futuro parece mais tenebroso do que nunca.

Desde que o presidente turco Recep Tayyip Erdogan chegou ao poder em 2003, o exército e o PKK travaram várias guerras curtas, incluindo algumas no norte do Iraque. Mas o conflito de hoje em dia é diferente. O partido pró-curdo HDP tem sido representativo não apenas para nacionalistas curdos, mas também para curdos conservadores que haviam votado em Erdogan. O líder do HDP, Selahattin Demirtas, que está agora preso perto da Grécia, é um líder carismático que já foi visto como uma esperança para resolver o conflito de três décadas do país.

Prender ele é igual a prender todos que votaram nele. Sua prisão é uma completa afronta à vontade de milhões de pessoas que acreditam que a solução para a questão curda jaz na política, não na montanha. Sua prisão é uma declaração descarada de que o governo não se importa com seu eleitorado, milhões que colocaram ele e seus colegas em posições eleitas. Sua prisão significa abrir a porta para outro ciclo vicioso de violência que já consumiu a Turquia desde o verão passado.

Quantos curdos e turcos mais devem ser mortos até que percebam que isso é uma ciclo sem fim?

Muitos políticos, tanto curdos quanto turcos, beneficiaram-se com a violência no passado. É surpreendente ver que os políticos ainda podem adotar a mesma estratégia, vez após vez. Engane-me eu-nem-consigo-contar-quantas-vezes.

Vimos esse filme antes. Em 2011, Erdogan renovou sua campanha para instigar sentimentos nacionalistas em uma aposta para desencadear a violência do PKK. Ele voltou sua atenção para os eleitores do MHP, o partido nacionalista. Quando Ahmet Altan, agora um jornalista preso, apontou isso, Erdogan iniciou uma batalha legal com ele. Ele estava tão determinado a destruir o MHP que ao menos 10 vídeos íntimos de grandes autoridades do MHP foram vazados apenas semanas antes das eleições. Ele repetidamente explorou esses vídeos íntimos durante sua campanha eleitoral. Ele falhou em colocar o partido nacionalista no limbo eleitoral.

A campanha nacionalista de Erdogan foi tão virulenta que o PKK aumentou significantemente seus ataques. Em Hakkari, por exemplo, apenas algumas semanas após as eleições de 2011, o PKK matou 26 tropas turcas, motivando uma contra-campanha massiva do exército turco no sudeste que continuaria por meses até as conversações de paz no ano seguinte.

Incapaz de assegurar votos nacionalistas, Erdogan agora queria firmar um acordo com os curdos. Ele achou que o processo de paz poderia ser um bom meio de levar os curdos para o seu lado em suas ambições presidenciais. Mas comprar o apoio do HDP não foi tão fácil quanto eles pensaram que seria. “Nós não faremos você ser presidente”, declarou Demirtas quando iniciava sua campanha eleitoral – um dos momentos mais memoráveis na política turca recente.

O HDP foi uma história de sucesso. Eles receberam 14 por cento dos votos nas eleições de junho de 2015 e o governo turco perdeu a maioria de seu partido. Erdogan estava furioso. O governo lançou mão de uma tática velha mas que “funciona”. Em um mês, a guerra foi retomada após uma pausa de dois anos. Curdos conservadores que votaram no HDP em junho trocaram seus votos para o AKP em uma eleição relâmpago em novembro. Um número significativo de votos nacionalistas também foram do MHP para o AKP. Erdogan reconquistou a maioria do seu partido no Parlamento.

Agora parece que Erdogan está caminhando para um referendo presidencial, talvez a mais importante votação para sua carreira. Ele não deixa nada para a sorte ou o azar. Ele conteve com sucesso os insurgentes que buscavam a liderança do MHP no meio deste ano. O líder do MHP, Devlet Bahceli, não é nada além de um fantoche do AKP. Agora ele quer ter certeza de qeue terá votos nacionalistas e conservadores conforme planeja realizar um referendo em abril do ano que vem.

Para Erdogan, agora é um momento perfeito para atiçar as chamas de uma terrível guerra civil. Nada pode dar mais certo do que a prisão de políticos curdos, fechamento de seus órgãos de mídia e jingoísmo nacionalista.

Mahir Zeynalov

Fonte: www.huffingtonpost.com

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