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Berlim e Ancara se estranham cada vez mais

Berlim e Ancara se estranham cada vez mais
agosto 23
10:56 2017

Há exatamente um mês, o governo alemão em Berlim abandonou sua postura até então contida em meio a uma crise cada vez pior nas relações com a Turquia e subitamente elevou o tom, alertando cidadãos alemães sobre os perigos de visitar o país e as empresas alemãs sobre os riscos de se investir nele.

Na época, o anúncio foi uma reação à prisão preventiva do ativista Peter Steudtner em Istambul, ao lado de mais cinco ativistas dos direitos humanos, incluindo a chefe da seção local da Anistia Internacional. O ministro alemão do Exterior, Sigmar Gabriel, chamou as prisões de arbitrárias e anunciou consequências. “Temos de rever nossa política para a Turquia”, afirmou.

Um mês depois, Gabriel fez um balanço pessimista dessa revisão em entrevista à agência de notícias DPA. “Acho que teremos de manter essa política ainda por um longo período e não acreditar que em algumas semanas tudo estará resolvido”, disse.

Detenção na Espanha

De fato, pouco depois dessa declaração a situação se acirrou ainda mais, com o presidente Recep Tayyip Erdogan instigando eleitores teuto-turcos a não votar em “inimigos da Turquia” na próxima eleição alemã e com o pedido de prisão do escritor alemão Dogan Akhanli, que foi detido pela Espanha a pedido da Turquia, por meio da Interpol.

Akhanli, que tem origem turca e é cidadão alemão desde 2001, disse acreditar que sua postura crítica em relação ao passado da Turquia está na origem de sua detenção. Ele publicou, em 1999, um livro com o qual quebrou um tabu: abordar o massacre dos armênios pelo Império Otomano em 1915. “Isso certamente não agrada à Turquia. Eles querem me calar”, declarou à emissora ARD. O escritor não poderá deixar a Espanha enquanto o seu pedido de extradição pela Turquia não for decidido.

O governo alemão se declarou aliviado por Akhanli ter ao menos sido liberado pelas autoridades espanholas, neste domingo (20), depois de passar um dia detido. Mas a chanceler federal Angela Merkel acusou a Turquia de manipular a Interpol para a detenção de Akhanli. “Isso não é aceitável”, afirmou. Já Gabriel disse que não se pode permitir que críticos de Erdogan sejam enviados à prisão também no “outro extremo da Europa”, em alusão às milhares de detenções ocorridas na Turquia depois do golpe de Estado fracassado de julho de 2016, incluindo aí cidadãos alemães.

Essas prisões, entre as quais está a do jornalista Deniz Yücel, são um dos principais pontos de atrito na crise das relações teuto-turcas. Já Ancara acusa Berlim de dar abrigo a golpistas. O caso envolvendo o humorista Jan Böhmerman e o reconhecimento, pelo Bundestag, de que o Império Otomano cometeu um genocídio contra os armênios também contribuíram para esfriar as relações.

Intromissão na campanha

Na sexta-feira, a campanha eleitoral alemã havia sido estremecida com uma situação pouco usual: Erdogan convocou os eleitores de descendência turca a não votar na União Democrata Cristã (CDU, partido de Merkel), na Partido Social-Democrata (SPD, de Gabriel) e no Partido Verde, com o argumento de que esses partidos são inimigos da Turquia.

Gabriel reagiu com rigor e declarou que se trata de “uma intromissão sem precedentes na soberania do nosso país” e que Erdogan quer incitar os cidadãos uns contra os outros. “Vamos mostrar àqueles que querem nos jogar uns contra os outros que não vamos participar desse jogo sinistro.” Gabriel acrescentou que, na Alemanha, “pessoas de todas as origens encontram aquilo que Erdogan quer destruir na Turquia: liberdade, Estado de Direito e democracia”.

A reação de Ancara não demorou. Erdogan atacou pessoalmente o ministro alemão durante um discurso em Istambul. “Quem você pensa que é para se dirigir ao presidente turco? Conheça os seus limites! Há quanto tempo você está na política? Quantos anos você tem?”, disse.

Merkel também criticou as declarações de Erdogan, afirmando ser “totalmente inaceitável” que o governo turco se intrometa na eleição alemã. “Nossos cidadãos alemães, não importa de que origem sejam, têm o direito de votar livremente.” Há cerca de 1,5 milhão de eleitores de descendência turca na Alemanha, e a maioria deles costuma apoiar Erdogan.

Publicado originalmente em: http://g1.globo.com

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