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TENTATIVA DE GOLPE NA TURQUIA

Na noite de 15 de julho, a Turquia sofreu uma tentativa de golpe frustrada que deixa aproximadamente quatrocentos mortos, entre militares e civis. No entanto, o governo conseguiu reprimir o golpe e retomou o controle do país em algumas horas. Começou assim um expurgo contra todos aqueles que foram considerados apoiadores dos golpistas. Esta “limpeza” se tornou um contra golpe. Logo em seguida foi declarado estado de emergência, a constituição foi suspensa e os direitos civis foram anulados. Dezenas de milhares de pessoas foram destituídas de seus cargos e presas sem julgamento algum. A mídia foi completamente censurada. Torturas, estupros e mortes suspeitas tomaram lugar nessa conjuntura, onde Erdogan jurou o extermínio de todos os oposicionistas.

1- O QUE ACONTECEU NA TURQUIA?

A) O que aconteceu na noite de 15 de julho?

Um grupo de militares das forças armadas começou a se movimentar em duas cidades. Eles bloquearam a ponte do Bósforo, tomaram o aeroporto principal em Istambul, ocuparam a sede da televisão estatal e transmitiram uma declaração de que haviam tomado o controle do país. Posteriormente o governo anunciou esta ocupação como uma tentativa de golpe militar. Erdogan falou, através de um aplicativo de celular, à televisão e convocou o povo a ir às ruas e resistir a essa tentativa de golpe. Após vários conflitos e muita confusão, o golpe foi exterminado com a força da polícia e a ajuda do povo. Erdogan, sem nenhuma evidência, acusou Fethullah Gulen, um clérigo muçulmano que vive nos EUA em autoexílio, de ter articulado este golpe. Logo depois Erdogan considerou esta tentativa de golpe como “um presente de Deus”. Assim se iniciou um processo de expurgo em massa em todo o país. Logo após o golpe frustrado as autoridades governamentais confessaram que já haviam preparado listas de pessoas a serem perseguidas. Na teoria, isso seria uma guerra apenas contra Gulen mas, na prática, é contra todos os opositores do Erdogan.

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24 HORAS DA TENTATIVA DE GOLPE

22:00 As movimentações nas ruas de Istambul e Ancara começaram.

22:05 Os militares controlaram alguns pontos estratégicos como pontes, aeroportos e órgãos de comunicação.

22:10 Apareceram vários aviões e helicópteros no céu.

23:05 O primeiro ministro Binali Yildirim anunciou a tentativa de golpe

00:00 A declaração dos golpistas foi lida na televisão

00:26 Erdogan chamou o povo às ruas através da televisão.

01:00 O povo começou a sair nas ruas em resistência aos golpistas.

01:05 Começaram a ocorrer conflitos e tiroteios nas ruas.

01:30 Parlamento foi bombardeado pelos jatos militares.

02:00 Os militares golpistas começaram a ser detidos.

03:20 Erdogan chegou a Istambul em seu avião particular.

04:00 Foi emitido mandado de prisão para os militares golpistas

08:32 Os comandantes reféns foram resgatados

09:50 Os militares golpistas se entregaram

10:00 O golpe foi controlado em todo país

20:00 O expurgos começaram

B) Quem organizou o golpe? Porque?

Pelas informações que possuímos até o momento, não há como chegar a uma conclusão definitiva. Pelo perfil dos militares que participaram do golpe, ainda não há indicação de um grupo em específico. As declarações do governo e a dos golpistas não estão de acordo entre si. Entretanto há quatro teorias em discussão:

    1. Incomodados pela situação atual do país, um grupo de militares autodenominado Conselho Paz em Casa, reunidos por ódio a Erdogan, formou uma coalizão, resultando em um  golpe fracassado.
    2. Sem provas, Erdogan afirma que Gulen, o inspirador do Movimento Hizmet, quis derrubar o governo através dos seus simpatizantes dentro das forças armadas.
    3. Os jornais pró-governo acusam os EUA de orquestraram o golpe para derrubar Erdogan, usando os simpatizantes do Gulen no exército como ferramenta para este fim.
    4. Gulen e a comunidade internacional suspeitam que o próprio Erdogan arquitetou o golpe ou deixou acontecer, fortalecendo sua posição, para alcançar seu objetivo de se tornar o homem-forte do país.

C) As suspeitas sobre o golpe

Qual foi a finalidade deste golpe, para quem serviu, quem planejou? São dúvidas apontadas pela mídia e pela comunidade internacional que ainda precisam ser esclarecidas.

Em seu primeiro aparecimento, Erdogan declarou que o golpe foi “uma dádiva de Deus” e acusou Gulen, desde o início, estranhamente, sem ter provas. Gulen condena o golpe e nega qualquer envolvimento. Ações tomadas pelo governo turco logo após o golpe fracassado, ainda aumentam estas dúvidas.

A noite do suposto golpe, 15 de julho, é um mistério. Neste episódio há mais de quarenta questões não respondidas. A começar pelo horário: às vinte horas toda a população estava nas ruas, nos bares e restaurantes. Se alguém quisesse mesmo derrubar Erdogan iria ao palácio do governo e na casa dos ministros durante a madrugada, bloqueariam os meios de comunicação. O país ia amanhecer com novo governo.’’ Não houve golpe. O golpe começa agora, Nexo Jornal

“A quartelada caiu tão bem nos planos de concentrar mais poder de Erdogan, que muitos turcos passaram a acreditar que ele mesmo teria planejado o golpe. Com mais de trezentos mortos entre membros do governo e da população. É difícil imaginar tal maquinação. Erdogan, porém, pode ter deixado o golpe acontecer ou posto o serviço secreto para desorientar os soldados rebeldes, que agiram de maneira amadora e descoordenada. Depois de soltarem uma bomba na frente do parlamento, os golpistas invadiram e discursaram em um canal de televisão irrelevante, com baixa audiência, e em nenhum momento chegaram perto de prender Erdogan, que se valeu de um aplicativo de celular para convocar seus apoiadores e enfrentar os tanques na rua. ”
 Revista Veja

Algumas dúvidas citadas na mídia nacional

-Erdogan se ausentou por seis dias antes do golpe pela primeira vez no seu mandato de 14 anos. Ninguém sabia onde ele estava até o momento do golpe.

-Hakan Fidan, diretor da inteligência turca diz que “Soubemos do movimento militar a partir das 16h“ Só que o movimento militar nas ruas começou às 22h.

-Erdogan diz que “Meu cunhado me ligou às 16h e me informou sobre a situação. Eu não consegui falar com diretor da inteligência turca.“ (Reuters)

Algumas dúvidas citadas na mídia internacional

-Agência Fars (Irã): “As forças aéreas russas capturaram, decifraram sinais de rádio dos militares golpistas e avisaram a inteligência turca com antecedência sobre tentativa de golpe” Link

-Ehud Yaari, diretor da redação do Canal 2, TV israelense diz que ”Erdogan havia se informado da tentativa de golpe com doze horas de antecedência”.

-Revista alemã Focus diz que “Inteligência britânica grampeou telefonemas e e-mails do governo turco meia hora depois da tentativa de golpe. Eles combinaram desde início que iriam acusar Gulen de ser o mentor do golpe.

D) As reações depois da tentativa de golpe

No dia seguinte, os líderes da oposição, ONGs e autoridades estrangeiras condenaram o golpe. Logo após as acusações contra Gulen, sob a liderança de Erdogan, começou uma campanha de repressão ao Movimento Hizmet.

Quanto a Gulen, em seus depoimentos aos órgãos de mídia internacional, negou estar envolvido no golpe e recomendou que um conselho internacional investigasse a tentativa frustrada de golpe.

Algumas horas depois do controle da tentativa de golpe começaram os expurgos. Os jornais pró-Erdogan saíram com manchetes alegando que o golpe foi coordenado por comandantes americanos. Acusando os EUA de apoiar o golpe e não entregar Gulen, as autoridades turcas fecharam a base da OTAN na Turquia. Em contrapartida a esse tratamento, os EUA ameaçaram a Turquia com sua retirada da OTAN. Sobre a questão do Gulen, eles pediram evidências junto a um pedido oficial em vez de acusações sem fundamento.

Erdogan: ‘Esta foi uma tentativa da minoria dentro das forças armadas. Essa tentativa é um ato incentivado pelo estado paralelo (Movimento Hizmet).’

Fethullah Gulen: Diante deste argumento, um conselho internacional deverá investigar o caso. Decidam se realmente existe algo assim ou não (sua ligação com golpe) após esta investigação. Mesmo que seja mentira, com testemunhas falsas, recebendo dinheiro, ou assinando documentos, eu ficaria satisfeito com o resultado.

Erdogan: Quando os nossos amigos norte-americanos extraditarem o líder terrorista (Fethullah Gulen) e nos entregarem, muitas coisas mudarão. Já que somos parceiros estratégicos, então cumpram o pedido de seu parceiro. Se os EUA não extraditar Fethullah Gulen, não entregaremos aos EUA as pessoas que eles nos pediram.

Bekir Bozdag ministro da justiça: O homem número um desta tentativa de golpe é Fethullah Gulen. A partir deste momento manter Fethullah Gulen nos EUA não cabe como bom termo de amizade entre a Turquia e EUA”.

Obama: Não sou eu quem decide sobre a extradição de Fethullah Gulen. O processo vai andar judicialmente.

John Kerry (ministro das relações exteriores): Eu solicitei ao ministro das relações exteriores da Turquia que nos enviasse as provas em vez de acusações sem base. Precisamos de evidências concretas que sejam apropriadas aos padrões de investigação em vigor em vários países sobre o sistema de extradição.

Yeni Safak, Jornal partidário de Erdogan: A tentativa de golpe foi conduzida pelo Comandante da ISAF dos EUA General John F. Cambell. Para apoiar o golpe, a CIA transferiu muito dinheiro pelo UBA BANC da Nigéria.

Suleyman Soylu, ministro da segurança social: Os EUA está por trás desse golpe.

John Kerry: Essas alegações irão complicar as relações dos dois países amigos da OTAN.

John Kerry: A OTAN examinará a Turquia nos próximos dias para determinar o cumprimento da exigência da aliança dos membros em adesão a governabilidade democrática. A OTAN também tem uma exigência no que diz respeito à democracia.

Federica Mogherini, representante superior das políticas e relações exteriores da União Europeia: A Turquia deve respeitar os direitos humanos, a democracia e as liberdades essenciais. Estamos preocupados com os acontecimentos na Turquia. Nenhum país pode se tornar parceiro quando se introduz a pena de morte. Isso é fundamental.

E) Ação de expurgo e contragolpe:

Os expurgos que começaram depois da tentativa de golpe se tornaram um contragolpe. Esse processo de “limpeza”, como confessado pelas autoridades do governo, foi planejado antes. Entendemos que Erdogan foi mais preparado para este golpe do que os militares.

“Antes da tentativa de golpe de 15 de julho existia uma preparação para a “limpeza” nas forças armadas. Nosso presidente não conseguiu fazer isso antes por causa de algumas questões.” Fikri Isik, Ministro de segurança

“Essa tentativa de golpe foi uma benção de Deus. Porque será um meio de “limpar” nosso exército, tornando-o puríssimo. Isto não vai parar, vai continuar, precisa ser feito.” Recep Tayyip Erdogan, presidente da Turquia

16 de julho Dezenas de milhares de funcionários públicos foram expurgados

16 de julho As licenças de 21 mil professores foram canceladas

16 de julho As detenções e investigações começaram

18 de julho Bank Asya, o banco fundado pelos seguidores do Hizmet, foi fechado

20 de julho Estado de emergência foi decretado

20 de julho Proibida a saída de funcionários públicos e acadêmicos para o exterior.

21 de julho Convenção Europeia dos Direitos Humanos foi suspensa

23 de julho 2.341 instituições foram fechadas

23 de julho O governo confiscou todos os bens e contas bancárias das entidades fechadas e das pessoas detidas.

24 de julho Anistia internacional denuncia tortura nas prisões

25 de julho Emitido ordem de detenção para 42 jornalistas

25 de julho 50 mil passaportes foram cancelados

25 de julho Os líderes de partidos da oposição se alinharam para apoiar Erdogan

27 de julho Emitido ordem de detenção para 47 jornalistas

27 de julho A polícia militar e guarda costeira tornam-se dependentes do ministério do interior

27 de julho As escolas militares foram fechadas

28 de julho 131 instituições de mídia foram fechadas

28 de julho Erdogan propõe subordinar as Forças Armadas e o Serviço de Inteligência Nacional (MIT) à Presidência

F) A campanha de linchamento social

A acusação de Erdogan contra o Movimento Hizmet levou a ações de violência no país. As autoridades governamentais incentivaram a perseguição aos simpatizantes de Gulen. Nesta atmosfera de pressão muitos começaram a mudar de opinião e tomaram atitudes contra o movimento Hizmet. Os que ficaram com medo confessaram ter participação nas atividades do Hizmet. A mídia pró-governo publicou listas de estabelecimentos comerciais e nomes dos empresários que são simpatizantes do movimento Hizmet para incentivarem o povo a saquear as lojas.

Vídeo: a loja da livraria NT foi saqueada

Citações

Erdogan: “Estou convidando vocês a saírem às ruas e protegerem nosso país contra este pequeno grupo que pretende tomar a nação turca”.

Multidão: “Pena de morte!” Binali Yildirim: “Entendemos o que vocês querem. Se o povo quer isto vamos atender”.

Bekir Bozdag, ministro da Justiça: A partir de agora não há mais espaço para conviver na Turquia com os que têm ligação com a FETO (Organização Terrorista de Fethullah Gulen)

Seref Malkoc – Assessor geral do presidente Erdogan: Percebemos a importância de cidadãos armados contra os golpistas. Vamos facilitar a obtenção de armas.

Governadores, sub governadores e prefeitos: Não aluguem casas para esses traidores, não façam compras ou vendam mercadorias, não ofereçam empregos, nem assinem contratos.

Legendas para as fotos:

-O governo abriu linhas telefônicas para que os seguidores do movimento Hizmet fossem denunciados.

-O povo, cheio de ira, incentivado pelo governo, atacou as instituições do Hizmet.

-Em Istambul o dono de um restaurante pendurou um aviso “os simpatizantes de Gulen não podem entrar”.

-Os partidários de Erdogan picharam as casas dos simpatizantes do Hizmet com a frase “não queremos vocês aqui”.

-Um xeique na província de Erzurum colocou um aviso na porta da mesquita que dizia: “Os simpatizantes de Gulen não podem entrar”.

-Um dos gerentes do time de futebol Trabzonspor postou isto no seu Twitter “As mulheres dos militares golpistas são despojos”

-Os moradores de um prédio em Istambul fizeram uma reunião para expulsar um morador do condomínio que era assinante do jornal Zaman. Ele era maior jornal da Turquia opositor ao Erdogan.

-Na França, os fanáticos por Erdogan incendiaram um centro cultural ligado ao Hizmet.

-Os fanáticos de Erdogan penduraram um cartaz gigantesco na praça Taksim que dizia: Ó FETO (Organização Terrorista de Fethullah Gulen), o cachorro de satã, vamos enforcar você e seus cães com suas próprias coleiras.”

-A Prefeitura de Istambul abriu um “Cemitério de traidores” para os golpistas.

-Por Bulent Korucu, um dos jornalistas críticos procurados pelo governo, não estar presente no momento, a polícia levou sua esposa como refém.

-Os cidadãos exigiram a confiscação dos bens dos golpistas.